Santidade é para todes!

Otávio Damichel
5 min readJun 16, 2023

No último domingo (11/06), um pastor da Lagoinha pregou um sermão intitulado “Santidade é para todes”, uma mensagem que faz parte de uma série que esta mesma igreja está promovendo no mês do Orgulho LGBT+. Sei que o objetivo deles é atacar a comunidade LGBT+ e promover o mesmo discurso de sempre, mas eu gostaria de aproveitar este título para falar de diversidade sexual e santidade, porque sim, é para todes!

Quando falamos em santidade geralmente imaginamos um cenário de moralismo, talvez uma pessoa como eu, calejada pelos discursos moralistas e excludentes do fundamentalismo, pudesse olhar para isso e entender que santidade não é pra mim, mas ao invés disso, prefiro disputar a narrativa, porque compreendo a importância de conversar sobre uma forma santa de ser LGBT+ e cristão.

O motivo pelo qual eu defendo a ideia dessa coexistência é por acreditar que orientação sexual não é uma escolha, mas uma condição. E também por crer que Deus não nos faria numa condição de vida que nos privasse de viver afetos e companheirismo pleno.

“Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar.”

1 Coríntios 10:13

Se creio assim, é também com base na própria conclusão divina de que não é bom que o ser humano viva só (Gênesis 2:18). Partindo dessa premissa, defendo a ideia de que uma pessoa na condição de não heterossexualidade também tenha o direito de amar, ser amado e viver uma vida em abundância (João 10:10).

Outra afirmação fundamental para essa compreensão é de que a relação entre pessoas do mesmo sexo não está ligada à promiscuidade, como afirmam os fundamentalistas, e não é mais possível aceitar a ideia que exemplos como o estupro de anjos em Sodoma, relatado em Gênesis 19:5 se refira a relações entre adultos que se amam, se respeitam e consentem. Isso é inaceitável.

Dito isto, de que maneira, uma pessoa LGBT+ pode trabalhar santidade em suas relações? Certamente não será se relacionando forçadamente com alguém do sexo oposto apenas para carimbar a figurinha da heterossexualidade. A sugestão do celibato, como mencionada por adeptos do LADO B (aqueles que acreditam que homossexualidade não é pecado, mas a prática sim) também não me parece satisfatória, pois nem todos nasceram pra essa condição tão especial.

Como pastor de uma comunidade com muitas pessoas LGBT+ assumidas e vivendo suas práticas, gostaria de sugerir três pilares para um relacionamento homoafetivo pautado em santidade, são eles:

1. RESPEITO, QUE REVELE A DIGNIDADE

Parece óbvio, mas não é. Claro que ninguém aqui em sã consciência acredita estar desrespeitando seu parceiro. Mas, mesmo em relações entre pessoas do mesmo sexo, sentimentos como posse, superioridade e outro abusos psicológicos rolam solto e eu posso provar!

Além disso, quero ir mais profundo nisso aqui. As dinâmicas da conquista entre o público LGBT+ e o público LGBT+ CRISTÃO não podem ser as mesmas. Nós normalizamos a objetificação das pessoas com esses aplicativos de relacionamento, eu não sou contra o uso do Tinder, por exemplo (apesar de achar bem raso toda aquela vitrine e a liquidez desse flerte), pois sei que principalmente pessoas cristãs, podem ter muita dificuldade de encontrar parceiros. Conheço um ou dois casais que se conheceram ali e deram certo, mas os outros 100 que deram errado também não consideraram isso relevante para me contar no gabinete. Hehehe!

Agora, sobre o uso do Grindr eu já tenho uma opinião mais radical. Perguntas como “tem local?” (referindo-se a um lugar pra transar) antes mesmo de perguntar outra coisa, não me parece ser coerente com uma postura de quem enxerga o outro para além de suas genitálias. Devido a inúmeros relatos de amigos gays, tenho recomendado fortemente que esse não é um bom lugar para pessoas comprometidas com o Evangelho encontrarem seus amores. Lembrem-se da imagem que vocês carregam!

“Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.’”
Gênesis 1:26

2. FIDELIDADE, QUE GERA COMPROMISSO

Quem não controla seu corpo, conforme descrito no Fruto do Espírito (Gálatas 5:22), estará sempre tendencioso a cair em tentação ou viver eternamente insatisfeito. Eu não acredito que um casal que se ama, tem compromisso e vive sob a lógica do amor e respeito, cometa pecado quando transa antes do casamento, mas acredito, sim, que o sexo é uma ferramenta para ser usufruída em relações de compromisso.

Esse segundo pilar corrobora com o primeiro: sexo é troca, afeto e prazer. Date é outra coisa, tem a ver com conhecer gente, paquerar (o jovem ainda usa essa expressão?) e se divertir. Lhe parece sensato, a quem compreende o corpo como santuário, deixar em cada cama por aí uma parte de si? Isso me soa imaturo e principalmente descontrolado. Sexo + compromisso é um match perfeito de intimidade e informação que fica apenas entre o casal.

“Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos?”

1 Coríntios 6:19

3. MONOGAMIA, QUE GERA EXCLUSIVIDADE

Sei que existe uma máxima conhecida nas discussões sobre diversidade sexual: “Toda forma de amor é válida”. Mas eu não acredito nisso! A Bíblia conta, por exemplo, que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (1 Timóteo 6:10). Sendo assim, existe uma forma de amar e essa é a maior divergência entre uma teologia mais inclusiva, e uma ortodoxa.

Eu acredito que a base de um relacionamento saudável e cristão não está nas questões de gênero discutidas em Efésios 5:25, ou seja, não é sobre a mulher ser submissa, ou o marido ser o cabeça da relação, mas ambos sujeitarem-se uns aos outros (como diz no versículo 21) e ambos amarem-se “como Cristo amou a igreja”.

Se o modelo de amor apresentado aqui — Cristo como noivo e Igreja como noiva — é válido, como colocamos uma terceira pessoa nessa relação? Tudo que passa disso na relação com Deus, a Bíblia chama de idolatria. Mas não vou me alongar neste tema, para tanto eu me aprofundei num podcast específico sobre isto, escute aqui.

Baseado nesses pilares, mesmo não sendo a intenção de André Fernandes, pastor da Lagoinha que pregou este título, eu acredito que sim: SANTIDADE É PARA TODES. Sobre a mensagem de André Valadão, deixo aqui um corte de minha última pregação comentando sobre:

Que Deus abençoe a todas as pessoas LBGT+ que estão em busca de uma vida cristã de santidade, que não esmague sua identidade, mas a redima.

Carinhosamente, seu pastor!

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Otávio Damichel

Pastor, escritor e podcaster. Acima de tudo, seguidor de Jesus!